Poetic-Verses from ATHANASE

Les joies rustiques de la poésie (Portuguese)

AS ALEGRIAS RÚSTICAS DA POESIA

Para Tiburce

"Após a chuva de estrelas
No prado de cinzas
Todos reuniram-se sob a guarda
dos anjos"

             Zbigniew Herbert

Eu amo as sílabas modestas e humildes das palavras

O esplendor suave da sua integridade

Nessa noite de maio, nadando numa paz suprema

Em busca de um país cheio de luz

Que se derrama dentro de mim mesmo.


O castelo

Está cheio de propostas que fazem rir

Mas que na verdade deveriam fazer chorar

Tão grande e irrevogável é seu vazio

Sua peremptória insignificância

Desprovido de toda consistência


Estou parado, fora, no limiar

De uma ala solitária

Distante do abismo dessa boquiaberta omnidicência

Em companhia de um velho gato

Apaixonado por mim


Silencioso,  tomado de um ardor indomável

Admiro, sem mover-me, o harmonioso movimento

Dos arbustos, sob a respiração elegante do ar

Que docemente se transforma em sombra

ao toque do veludo suave da noite.


E me parece nesse momento exato

Que fico também imponderável

E que as volúveis rosas sobem

Ao redor das estacas de madeira clara

em busca de um céu lilás.



Uma tristeza suave flutua

Ao redor de todos os seres

Como uma bênção inesperada,

Profunda,

Legível, vibrante

Do  anjo do crepúsculo

Que tarda em se juntar

Ao voo disperso

De seus alados pares


E sonho de repente com palavras

Estruturas de sons tão discretos

Tão humildes, tão pudicos

Que já não podem mais opor

nem o mínimo obstáculo

À clarividência do coração

à densa presença desse universo puro.


Palavras que não ousam mais ferir

A alegria dum minuto

Talhado no cristal do amor.


Palavras vindas do mundo invisível,

Mas suntuosamente real

Dum tempo imemorável

Para celebrar a eclosão taciturna

Desse lindo jardim primaveril.



Paris, quarta-feira 11 de junho , do Ano da Graça de MMVIII

Glossário :


Tiburce: velho pronome, do latin tiburtinus, originário de Tibur, cidade do Latium (Itália)

A Sibyla de Tibur anunciou a Augusto o nascimento de Jesus.


Zbigniew Herbert (1924-1998) Figura maior na paisagem da poesia polonesa do século XX. Nascido em 1924 em Lviv ou Lvov (atualmente na Ucrânia)

debutou tardiamente no seio de uma geração de poetas mais jovens. A fama repentina deu-se com a ressonância política de seus poemas: o ano da publicação de seu

primeiro livro de poemas foi também o do relativo afrouxamento do sistema totalitário da Polônia e com ele o desaparecimento da censura. Ele continuou escrevendo

até o fim de sua vida. Seu último poemário foi publicado em 1998, alguns meses antes de sua morte.  


Translated into Portuguese by Guilem Rodrigues da Silva


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